

Visita de campo em um local de descarte de caroços de açaí na periferia da zona urbana de Moju, Pará. Foto: Beatriz Cintra

Foto: Jessica Andrade


Visita de campo em um local de descarte de caroços de açaí na periferia da zona urbana de Moju, Pará. Foto: Beatriz Cintra
ficha técnica
Data: 16 de janeiro a 08 de fevereiro de 2020.
Local: Zona Urbana de Moju (PA) e comunidades ribeirinhas do Jupuubinha e Itapera, interior do município.
Realização: A Casa de Açaí e Clube de Ciências Municipal de Moju..
Recursos: FAUUSP, A Casa de Açaí, Universidade Estadual do Pará - Campus Moju (UEPA-Moju) e Kyvo Design-Driven Innovation.
Facilitação: A Casa de Açaí, CoCriança e Clube de Ciências Municipal de Moju.
Participantes: 27 jovens e adultos - 09 integrantes da FAUUSP, 09 alunos da UEPA-Moju, 05 alunos do ensino médio, 03 alunos do fundamental II e 01 convidada.
Faixa Etária: 13 a 50 anos.
Entregas tangíveis: metodologia de design aplicada à produção acadêmica; relatórios; mapas; maquetes; registros gráficos e audiovisuais; protótipo; conteúdo de pesquisa para o A Casa de Açaí.
Entregas intangíveis: sensibilização do grupo - desafios que levaram ao desenvolvimento do material e dinâmicas e desafios de uma comunidade isolada; contato com o método produtivo do material; estímulo à ciência jovem; integração entre parceiros.
dicionário
DesignThinking: Método de trabalho e para condução de atividades para que ações, pesquisas, decisões, produtos sejam o resultado de práticas colaborativas, profundas e ágeis. Mapeando as diferentes perspectivas para formular uma alternativa construída em conjunto, por meio do design, é uma abordagem que abraça a eficiência e a criatividade ao tratar coletivamente de desafios através de ferramentas e métodos que facilitam o processo.
DoubleDiamond: Método de visualização e gestão de processos. Cada um dos oito pontos dos “diamantes” conectados simboliza um produto dos patamares de um processo, que por sua vez estão representados em divisões das formas em dois triângulos: no primeiro, a divergência das linhas é o discover (levantamento de informações) e a convergência, o define (definição do que será aprofundado) enquanto, no segundo, são o develop (desenvolvimento) e o deliver (produção do entregável), respectivamente. Na ordem, os pontos de contato são: pesquisa e enunciado no primeiro “diamante” e, no segundo, projeto e produto final.
imersão 2020
A imersão aconteceu entre 16 de janeiro e 08 de fevereiro de 2020 nas zonas urbana e rural do município de Moju (PA) e, através da co-criação entre estudantes de Moju e de São Paulo e da colaboração de moradores de comunidades locais, possibilitou o mapeamento de tradições arquitetônicas vernaculares, dinâmicas socioeconômicas e tratamento de recursos naturais no município de Moju (PA). As pesquisas do A Casa de Açaí foram o que norteou as atividades, realizadas em etapas distintas: duas na zona urbana de Moju (16 a 30 de janeiro) e uma na comunidade ribeirinha do Jupuubinha (01 a 08 de fevereiro).
Articulação do grupo: empatia e valorização de saberes
Diferenças em faixa etária, contexto sociocultural e familiaridade com os temas da imersão foram os motivadores de uma sequência de atividades que visaram à integração do grupo e ao desenvolvimento de habilidades interpessoais. Essas mesmas atividades também serviram para preparar o grupo para sair à campo e acolher histórias e relatos de moradores de Moju.
Nesse primeiro momento, então, todos foram convidados a refletir sobre o que tinham a oferecer e a receber uns dos outros, sem hierarquia de saberes, e a valorizar a pluralidade de um grupo com presença de tantas áreas de conhecimento e formas de ver o mundo. Assim, foram feitas oficinas, apresentações, brincadeiras e conversas abertas que a um tempo buscaram nivelar conhecimentos e enaltecer repertórios pessoais. Esse trabalho também foi feito de forma a fazer prevalecer a empatia, a escuta ativa, a comunicação não-violenta e o espírito de companheirismo entre todos.
Oficinas, pesquisa de campo e design-thinking
Como há grande carência de informações sobre Moju e suas comunidades nas áreas de arquitetura e urbanismo, havia muitas lacunas do nosso levantamento bibliográfico e cartográfico sobre a região. Com isso em mente, essa etapa das atividades focou em temas cruciais para embasar a pesquisa e o desenvolvimento do A Casa de Açaí, mas sobre os quais pouco havia material disponível.
Os assuntos abordados pelas oficinas e em trabalho de campo foram tipos de moradias encontrados em Moju, direito à moradia adequada, gestão de resíduos sólidos no município, costumes arquitetônicos locais, consolidação da mancha urbana mojuense e a disponibilidade, produção e uso de componentes construtivos. Como resultado, cada grupo escreveu um breve relatório sobre o que descobriram e organizou visualmente as informações em mapas e esquemas.
O trabalho nesta etapa foi realizado por equipes multidisciplinares e tudo foi feito com suporte de ferramentas de design, como o Double-Diamond, para que as ações fossem o resultado de práticas colaborativas, profundas e ágeis, características intrínsecas ao uso das metodologias de design thinking. Dessa forma, o grupo da imersão entrou em contato com diferentes formas de se levantar, organizar, processar e apresentar material bruto de pesquisa.




Prototipações
O fim da etapa na zona urbana do município de Moju (PA) foi marcado por duas atividades diferentes: a de produção de maquetes baseadas nos levantamentos sobre tipos de casas mojuenses, facilitada pelo CoCriança, e a de elaboração de um protótipo em escala real com a utilização do resíduo do açaí.
As maquetes foram produzidas a partir das observações em campo e de discussões do grupo sobre quais seriam as tipologias habitacionais mojuenses, sendo, assim, uma espécie de síntese sobre o que aprenderam a respeito da paisagem e dos costumes arquitetônicos do município.
A partir das observações sobre uma das tipologias, a construção em taipa de mão, e da descoberta de que havia grande volume de rejeitos de madeiras de lei da indústria madeireira, a ideia inicial de se produzir blocos com o material foi substituída pela de se produzir um painel de madeira e de uma mistura de argila com caroço de açaí feito com a técnica de construção em taipa-de-sopapo. Para tanto, montou-se uma estrutura com sobras das serrarias locais revendidas para construção de cerca e os alunos a preencheram com argila beneficiada com diferentes percentuais de caroço carbonizado. Essa atividade, assim como as anteriores, abriu novos caminhos para a pesquisa como um todo, que adotou a ideia testada como um norte para desenvolvimento dos componentes construtivos a serem propostos pelo A Casa de Açaí. .

Foto: Caroline Goes


Foto: Jéssica Andrade

Foto: Caroline Goes
Imersão nas comunidades ribeirinhas
Na segunda etapa da Imersão de 2020, alguns dos participantes de São Paulo foram às comunidades do Jupuubinha e do Itapera para que entrassem em contato com o universo ribeirinho e realizassem a documentação de técnicas construtivas locais tradicionais.
Para isso, foram feitas visitas a casas diferentes e mapeou-se uma construção em madeira com tipologia tradicionalmente ribeirinha, a de Seu Antônio Barbalho, onde o grupo ficou hospedado. A viagem foi também o momento para introduzir ao grupo temas como os ciclos extrativistas da madeira, do açaí e do avanço do cultivo em larga escala do cultivo de dendê, todos eles fatores muito importantes para a compreensão das dinâmicas socioeconômicas na Amazônia paraense.